quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Mais Colorado dos Colorados

Porto Alegre, verão de 1988, o sol carrega violentamente seus raios sobre o dorso de minhas costas. Levo comigo minhas inseparáveis vestimentas alvirrubras e em outra mão meu estimado rádio Philips. O calor é intenso e em nossa Castelo Gigante, pouquíssimos fiéis aguardam o início do confronto marcado contra nosso homônimo da Região Central da Província. Estar naquele momento sentado no calor daquele cimento, já poderia ser considerado ato de heroísmo. E a cada erro de nossos atacantes, a cada equívoco de nossos defensores, a minha certeza aumentava. Aqueles trezentos homens que apoiavam o Exército Vermelho, naquela batalha, tratavam-se de verdadeiros fiéis vermelhos.
O confronto chega ao fim. Uma vitória minguada. Bem típica daqueles tempos. Lentamente caminho rumo a estrada mais próxima á saída de nosso Castelo Rubro. Em meio aos comentários dos menestréis, um dos fiéis vermelhos me aborda e interrompe meu percurso. Trazia consigo uma vestimenta alvirrubra com um ramo de louros bordado acima do brasão e em outra mão um rádio de dimensões tão grandes quanto o meu. Disse que me conhecia. Disse que era amigo de meu tio. Disse que não sabia de minha paixão pelas cores branco e rubro. Disse, ainda, que entendia que o atacante Heider fizera uma boa jornada. Disse que acreditava cegamente na recuperação de defensor Casemiro.
Vislumbrei em sua face rosada pelo sol intenso, que seus olhos ainda cintilavam felizes pela apertada vitória alvirrubra. Em um pequeno exercício de memória,  consegui decifrar de quem se tratava. "É aquele nosso amigo que tinha o hábito de jogar War comigo e com meu tio na pequena cozinha da casa de meu avô. É, aquele cara que posicionava todo o seu Exército Vermelho dentro do Japão e se desfazia dos demais territórios, só para poder dizer à plenos pulmões: O Japão é vermelho"!
Claro, sim, é o amigo de meu tio.
Desde aquela tarde ensolarada, nosso caminho foi marcado por inúmeras batalhas travadas em nosso Castelo Gigante. Foram muitas lágrimas derramadas em vitórias ou em insucessos alvirrubros.
Mas se algum dia, por essas andanças da vida perguntarem pelo mais colorado dos colorados, lembrem que o Exército Vermelho conquistou pela primeira, vez a terra do Sol nascente há mais ou menos duas décadas atrás. Lembrem, também, dos trezentos guerreiros ardendo sob um fogo intenso. Lembrem do coração alvirrubro mais flamejante que já se ouviu falar, nesses 98 anos de existência do Planeta Vermelho.
Claro, sim, lembrem do amigo de meu tio.

Márcio Mor Giongo, em 4 de abril de 2007.



* Texto dedicado à José Nicolau Salzano e Roberto da Gama Mór.

 

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