domingo, 27 de maio de 2012

Samba, Suor & Tango


 Dentro do Rio de Janeiro, onde o sol reluz ardentemente nos olhos de  Cristo, que abre os braços e abraça o povo sereno que passa. Onde o mar cristalino, reflete a pureza e a autenticidade redentora da alma carioca. Da boemia alentadora de Noel Rosa ou do samba de raiz de Paulinho da Viola, Martinho da Vila ou Jorge Aragão. Das estrofes harmônicas e das rimas extasiantes de Chico Buarque de Hollanda. Das crônicas geniais de Nelson Rodrigues, e a descrição  mais do que perfeita, do anjo das pernas tortas. Do rock debochado de Frejat,  da pura poesia de  Cazuza.
O Rio de Janeiro de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e a graça da morena que passa! O Rio de Janeiro, mas em fevereiro de carnaval, que transpira  o suor do trabalho de um ano inteiro. Das glamourosas passistas em transe na passarela, com a performatica ala das baianas em conjunção com o arrepio alucinante de uma voraz bateria. O Rio de porta-bandeira e mestre-sala! O Rio das rainhas do samba, da eterna Luma de Oliveira e suas sandalias prateadas na Salgueiro ou Viradouro! O Rio de Janeiro  da Mangueira ou Mocidade, mas se preferirem Portela ou ainda Beija Flor! O Rio de Janeiro  da Apoteose, do espetaculo de massa, do épico e glorioso Maracanã. Um Rio que agua e desagua em todos seus bairros, da favela á Zona Sul, dos condominios luxuosos aos morros das balas perdidas. O Rio de Janeiro da Rocinha, do Vidigal, do Leblon,  de Ipanema e da Lapa. Também de Copacabana, do Recreio, da Tijuca e do Engenho de Dentro!
E foi lá dentro, de dentro do Engenho de Dentro, onde o  bairro abraça um elefante pálido, que chora ainda os exageros desenfreiados de um Panamericano sem fim , mas que dorme e acorda agora, palco das estrelas cariocas, no Campeonato Brasileiro de 2012 .
Caros amigos, e as estrelas daquele céu de brigadeiro , cintilam como nunca, quando sacodem seus tamborins! No estadio do Engenhão, o ritmo contagiante e mirabolante da torcida adversária  é o samba!. No segundo tento rubro-negro, Ronaldinho Gaúcho comemora o seu gol, dançando e sambando, em frente ao povo carioca, feito um mestre-sala sedento por uma passarela.
Amigos, eis a verdade: mesmo com a vitória parcial de dois a zero no inicio da primeira etapa, a bateria flamenguista, contudo, se demonstrava em completa desarmonia. Eram passes errados, descontrole de posse de bola, inúmeros equivocos  que levaram em contra-partida, o escrete colorado a acumular, inacreditaveis chances perdidas!
Desde o inicio do confronto, se percebeu que o samba colorado era por demais valioso.Vislumbrou-se também, que Jesus Dátolo foi o maestro de bateria daquele carnaval. O argentino organizou o meio campo branco e rubro de uma forma magistral, ditando um ritmo alucinante, de dar inveja a qualquer passista de escola de samba . Também, por outras vezes, criou um compasso lento e sinuoso, como se estivesse dançando um magnífico tango de Carlos Gardel. Dátolo controlou a posse de bola colorada e fez resplandecer várias oportunidades rubras no primeiro e no segundo tempo da partida. E como final apoteótico, desferiu um petardo no canto esquerdo do arqueiro flamenguista, marcando o terceiro tento colorado e concretizando o primeiro empate rubro no atual certame.
Datalo não dançou, nem tão pouco sambou.! Procurou  a casamata colorada, e com os punhos cerrados e os olhos arregalados, vibrou e gritou como um guerreiro invoca proteção dos deuses ou como um soldado comanda um pelotão de batalha!! Ou, ainda, tal e qual um puxador de escola de samba, que inicia a execução de um enredo em plena Sapucaí.

Ademais, minha caneta vermelha disse e assina ao povo rubro.

Por Márcio Mór Giongo, em 27 de maio de 2012.

Foto: Terra Esportes.
 

terça-feira, 22 de maio de 2012

Passos na Estrada


Passo a passo. Trinta e oito passos. Um primeiro passo na arte de andar. Um primeiro passo para  uma reconciliação. Um primeiro passo para o amor. Um primeiro passo para voar. Um primeiro passo para o céu. Um passo dos pássaros que passam. Um passo em falso. Um passo no abismo. Descompassados passos. Os profundos passos da estrada, as pegadas sinuosas de uma trilha, os passos longos e duradouros de nossas vidas.
No aconchego da Pasárgada branco e rubra, passos importantes e imprescindiveis, na estreia do escrete colorado no Campeonato Brasileiro de 2012. Aos largos passos de Leandro Damião, em uma passada confiante e vigorosa, uma meia-lua inteira e a pelota passando zunindo, pelos ouvidos do arqueiro paranaense. Um lindo primeiro tento e um valoroso primeiro passo, rumo a primeira vitória no certame!
Passos ao vento, passos ao sol brilhante, passos macios ao tapete verde, passos para o futuro, passos de um passado longinquo. Os passos de Damião, os passos de Datolo e os passos de Dagoberto, conjugados, no segundo e belissimo tento rubro, lembraram e muito aqueles passos maravilhosos, dos craques rubros da decada  de 70. Ah, tantos passos distintos, passes magistrais e um tiro certeiro de Dagoberto no canto esquerdo do goleiro curitibano.
A estrada é longa, há passos importantes a seguir, o caminho é distante e com pedras, algumas flores e espinhos, muitos espinhos! O primeiro e essencial passo foi dado. A espera de um segundo, no proximo domingo, nas areias do Rio de Janeiro e  todos os demais trinta e seis passos, pela quilométrica e vasta costa brasileira.

Ademais, minha caneta vermelha disse e assina ao povo rubro.

Por Márcio Mór Giongo

Foto : Terra Esportes.

 




quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sorriso Letal

Do outro lado do Atlântico; onde os castelos de Manchester, ainda sorriam para os campos verdes do amanhecer da aurora; fiquei perplexo com o sofrimento de um povo, que não comemorava um titulo a mais de quarenta anos. Muito embora o azul do Manchester City,  ainda ofuscasse meus olhos; olhos esses fixados em frente ao televisor; não me contive em comemorar o segundo tento, anotado por Aguero, já aos 48 minutos do segundo tempo. A decisão do Campeonato Inglês, era para ser em um embate tranquilo, com uma vitória facil. Não foi.
Nas margens do Guaiba , onde o vento ainda sopra com intensidade e espalha sua brisa nos corações do povo rubro, viu-se o sofrimento atravessando a nado, em braçadas largas e ritimadas,  o imenso Oceano Atlântico.
Depois de uma primeira etapa deprimente, em uma melancolia digna de dar inveja a qualquer romancista brasileiro do seculo XIX, o escrete rubro retornou das escadarias do vestiário com um novo semblante, ou melhor, com um novo e entusiasmado argentino. D'Alessandro ditou o ritmo! Driblou. Correu. Parou. Lançou. Retrocedeu. Reclamou quando era necessario reclamar. Enfim, foi D'Alessandro.
Mas, voltando ao descabido sofrimento, por onde andaria naquele instante, o tão sarcástico sofrimento? De inicio, persistia. O sofrimento parecia ainda perambular por ali, vagando feito alma penada. Ou estagnado! A espera de um final nefasto! Antes disso porém, sorriu  nas defesas milagrosas do arqueiro caxiense. Fez pirraça, quando o lateral Nei, efetuou com a perna direita, uma inexitosa cobrança de penalti, nas mãos do goleiro grená. O sofrimento ria, debochava, alardeava felicidade! Fez o coração rubro de gato e sapato, quando em uma cabeçada fulminante do ataque colorado, o arqueiro caxiense, efetuou uma fantástica defesa, bem ao estilo Gordon Banks, na Copa de 70.
Naquele dado momento, era inevitavel de se perceber, o sofrimento escorado na trave grená, aos olhos de todo estádio, soltando gargalhadas em uma prosa animada, com os beques serranos.
Até que finalmente, em uma jogada serena e tranquila, o camisa 24 rubro, Sandro Silva, limpou a retaguarda adversaria e com uma seriedade descomunal, desferiu um petardo indefensável no canto direito do goleiro caxiense, acabando com a algazarra e o deboche alheio.
Mas o sofrimento não perdia por esperar! Ah, não perdia mesmo! Antes de pensar em ensaiar um novo sorriso ou antes mesmo de tentar esboçar qualquer tipo de fanfarra;em uma bola alçada na grande area, Leandro Damião, cumprimentou o goleiro grená, efetuou o segundo tento rubro e colocou definitivamente a mão na taça gaucha, para os sorrisos flamejantes de milhares de colorados que compareceram ao Gigante.
O coração rubro sofreu...como poucas vezes sofreu...sorriu quando tinha de sorrir e vibrou com o quadragésimo primeiro título regional.
Ademais, minha caneta vermelha disse e assina ao povo rubro.

Por Márcio Mór Giongo

Foto: Terra Esportes.

* Este texto faz parte da coletânea Veríssimos, obra publicada pela Editora Alternativa , no ano de 2012.