quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Macedônia Brasileira



Porto Alegre, domingo de tarde nublada, alguns raios de sol teimam em aparecer entre nuvens cinzentas. Já com o pensamento no Japão, tento imaginar como poderia estar o clima e a temperatura durante os combates na terra do Sol Nascente.
Com olhos para o céu, deixo a janela entreaberta para colocar meu rosto ao vento, mas na verdade pareço mesmo estar suplicando por alguma ajuda divina, nesses dias que antecedem as batalhas mais importantes de toda a existência do Planeta Vermelho.
Com um simples movimento, aperto o botão de meu televisor e aciono ao vivo o embate do Parque Antártica. O palco era todinho verde, mas o sol custava a aparecer na Capital Paulista. A Arena do Palestra Itália estava repleta de seguidores. Naquele instante, confiro a lista de gladiadores que estão compondo o Exército Vermelho e noto entre eles a presença tímida de um menino.Um garoto conhecido por toda a Nação Vermelha pela alcunha de Pato...Pato??? Poderá alguém vingar em uma batalha voraz usando esse apelido como graça divina? Sei não...mas..., pensando melhor...talvez o pato da Arca de Nóe de Vinícius de Moraes, antes de ir para a panela, possa ter vingado algum dia...não é? Ou quem sabe o pato de Hans Christian Andersen quando mudou sua forma e sua cor também possa ter alcançado alguma vitória significante...viu só?
É, e naquela tarde cinzenta o dia parecia mesmo ser de Pato. O nosso menino prodígio, com seu semblante infanto-juvenil, em um toque genial, tirou o arqueiro rival da jogada e efetuou seu primeiro tento com as vestimentas até então imaculadas, recém conferidas por seus comandantes.É, e realmente naquela tarde alguém tinha que pagar o pato. Com dribles desconcertantes, Alexandre Pato entortou os guardiões da meta alvi-verde e fez resplandescer dentro da Arena adversária uma série de tentos que levaram o Exército Vermelho a uma vitória significativa e enaltecedora.
Alexandre, o Pato, não tomou conhecimento de seus marcadores. Os márcios e marcinhos, guerreiros ou não, que tentavam derrubar nosso menino prodígio não obtiveram êxito e o que se via era o sorriso maroto de nosso jovem mancebo, comemorando com seus aliados como se fora um veterano de guerra com ares de um imponente Imperador.
Sentado na beira do sofá, assistia tudo atônito como fosse eu um marcador do garoto. Era difícil de acreditar que aquele pequeno grande menino, com tamanho talento envergasse hábitos alvi-rubros.
Depois de anos e anos suportando patos-patetas e patinhos-feios, com lágrimas incontidas, coloquei minhas vistas sobre o campo de batalha e vislumbrei que juntamente com as estrelas bordadas sobre nosso manto sagrado, cintilava também uma estrela maior que fazia irradiar feixes de luz resplandescentes para o interior do castelo rival. A janela se abriu sozinha, um calafrio tomou conta de meu corpo, olhei para os céus, o sol agora reluzia em uma energia latente. No campo de batalha, mensageiros com hábitos vermelhos pareciam estar tentando enviar um recado. Com muita dificuldade, consegui decifrar os manuscritos. O texto em língua estrangeira tinha endereçamento ao arrogante Rei da Catalunha e continha os seguintes dizeres: "Os deuses do Olimpo trouxeram a Macedônia ao Celeiro de Ases...O Imperador agora veste túnicas alvi-rubras e responde pelo singelo pseudômino de Pato, O Grande".

Márcio Mór Giongo, em 27 de novembro de 2006.


* Este texto recebeu prêmio, no I Concurso Literário da Fundação de Educação e Cultura do Sport Club Internacional - FECI, na categoria Contos, no ano de 2008.

* Este texto, também, foi publicado na Coletanea In Verdades, da Alpas XXI, pela Editora Alternativa, em 2010.





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